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segunda-feira, setembro 27, 2004
Tentar: mais uma, do lado de lá
Sei que hoje não vieste para me ver, ou para me dirigir a palavra. Sei que hoje não vieste por mim, para mim. Sei-o porque fiquei a assistir enquanto fingiste que não existe gesto para além da tua mão. Vieste porque tinhas que marcar a tua existência no mundo, como se o mundo não soubesse que te amo.
domingo, setembro 19, 2004
Caligrafia do silêncio
Um dia, talvez amanhã, talvez agora mesmo, hei-de compreender porque ainda respiro o teu olhar tão, tão devagar, como se a definição de luz viesse antes da partida, a seguir a ti… Bem por detrás de mim. Na escrita que ainda se ouve.
sexta-feira, setembro 10, 2004
Em ti hei-de mergulhar sem aviso ou tiro de respiração
entre a memória apagada e a vida repetida por revelar
Em ti hei-de sobreviver à tua ordem de silêncio que ainda não construiste
entre o espaço aonde me deixas pernoitar e o espaço aonde acabo por me reconhecer
Em ti hei-de esquecer que alguma vez fui o fim do tempo num tempo de fim de ti
Em ti hei-de esquecer que um dia quis as tuas mãos sobre os meus olhos
e em ti hei-de esquecer que foste tu que inventaste o vazio...
Em ti e em mim
quinta-feira, setembro 09, 2004
por detrás do olhar, parte 6
O silêncio está a entrar muito devagarinho por aquela porta. Meço-lhe a distância, mas os olhos estão recuados do olhar, presos às palavras que desde o tempo em que abrimos as nossas mãos se espalharam pelo gesto. O gesto que agora mesmo descodifiquei enquanto me deixaste a contar os teus passos no corredor ou naquele outro espaço que bem sabes que nunca conheceu o nosso cheiro.
Vais sempre ser assim, desaparecer sempre que os meus olhos se encherem de luz por entre as mãos que entretanto se infiltraram pelo meio de um escudo de carne que mantenho para te compreender, para te falar, para te descobrir, enquanto mentes ao teu coração.
Deixa-me ficar, entre este e aquele grito. Entre esta e aquela música. Entre este e aquele murmúrio. Entre este e aquele silêncio. O silêncio que fazemos quando ambos nos perdemos na direcção do outro. O silêncio que fazemos enquanto embalamos a dor. O silêncio que fazemos, enquanto fazemos amor. Mas não era ruído que costumávamos fazer? Quando fazíamos.
O silêncio está a entrar muito devagarinho por aquela porta. Não lhe recuso a entrada, mas sei que não vens com ele… O silêncio já está cá dentro, dentro.
quarta-feira, setembro 08, 2004
You and me
Had some history
Had a semblance of honesty
All that has changed now
We shared words
Only lover speak
How can it be
We are less than strangers
Oh it hurts to lose in love
Let anger and cruelty win
It's unfair that you doubt your feelings
And that you'll ever love again
I know that hearts can change
Like the seasons and the wind
But when I said foreverI
thought that we'd always be friends
You and me had some history
Had a semblance of honesty
All that has changed now
We shared words
Only lovers speak
How can it be
We are less than strangers
I thought I saw you yesterday
I thought I passed you on the street
I swear I saw your face
I was not imagining
That you stole a glance my way
You walked away from me
My heart it may be broken
But my eyes are dry to see
You and me had some history
Had a semblance of honesty
All that has changed now
We shared words
Only lovers speak
How can it be
We are less than strangers
Lyrics by Tracy Chapman
(Aonde estás?....)
sábado, setembro 04, 2004
Cobram-me mensagens, telefonemas, sorrisos, mãos, poderes sobrenaturais… Eu também sou humano, lembram-se. Sou feito do mesmo material que um dia há-de apodrecer num lugar qualquer, sem nome ou identificação, espero. Cobram-me tudo aquilo que acham que me podem exigir. E eu, porque não sei fazer frente a atitudes que desafiam as leis do respeito e da honestidade, cedo. Cedo a pressões, a pedidos, a querelas, a jogos de poder que não compreendo e nunca hei-de compreender.
Será que não conseguem ver nos meus olhos que não gosto de álcool aos litros, que não gosto de ambientes cheios de fumo, que não gosto de dizer palavrões a torto e a direito, que não gosto de ser convidado para tomar café para depois levar com o teu silêncio em cima, que não gosto que me digam ‘Adoro-te’, ‘Amo-te’ e no dia seguinte (ou qualquer coisa assim do género) tudo tenha desaparecido, em explosão definitiva aparente…, que não gosto de amanhã ter de tentar tudo de novo…
Pensei que desta vez ia ser diferente. O teu olhar, as tuas mãos e tua insistência em me ver todos os dias quase me convenceram, mas foi tudo igual. Igual com uma pequena diferença: nunca te revelei o meu nome e nunca me deixei levar num olhar que agora parece perdido e não sabe aonde aterrar… És passado sem nunca teres sido presente, aqui, agora, desde há alguns dias, só que ainda não to disse, e nunca to direi…
quarta-feira, setembro 01, 2004
“Adoro-te…”, “Amo-te…” Isto é o quê – palavras, clichés, ou sentimentos a sério?!! Juro que não entendo a rapidez com que se utilizam estas palavras. Não entendo porque se deixam sentimentos, conversas e até mãos a meio... Podiam ter deixado o ‘Adoro-te’ ou o ‘Amo-te’ a meio, mas não. Lá os enfiaram bem no meio daquele momento aonde apenas o silêncio tinha licença para existir. Agora, que a magia passou e o sol tem finalmente direito a brilhar sobre todos os gestos e sons, os enunciadores românticos acobardam-se porque a mão que outrora os travou hoje lhes exigiu o movimento contínuo do corpo…
Hoje deixei de acreditar no amor. Nessa teia de enganos e desilusões que me prende e me vomita enquanto me deito para dormir… Hoje, quando até te esqueceste de me dizer ‘Adeus’, deixei de acreditar em ti. Hoje passei a acreditar nos meus novos colegas de apartamento. Esses, pelo menos e por enquanto, fazem-me feliz e levam-me a ver o Garfield mesmo que depois na solidão do meu quarto eu mergulhe num sono que me leva para longe do acordar…
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