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quarta-feira, outubro 20, 2004

a casa, parte 2

Já não consigo acreditar que estive na tua casa, no teu quarto. De mãos dadas, a contemplar aquela luz solar, quente e cheia, enquanto me fitavas na procura de um beijo. Depois, algum tempo depois, ele veio. Quase programado, programado, mas para a primeira vez. Tanto quanto se pode programar um beijo assim.

Já não consigo escrever mais sobre ti. É tão difícil entender-Te. Mais do que eu, mais do que nós. Mais do que os minutos que não soubeste alargar. É tão difícil entender quando a resposta está bem à nossa frente e ela não nos inclui. Porque não podem as minhas mãos tocar-te (mesmo) enquanto os teus passos recuam?...

Se ao menos tu tivesses tido a coragem de me olhar de frente naquele dia. No dia em que soube a cor do teu gesto. No dia em que soube que jamais voltarias a preferir o meu nome. Agora, sei de onde vêm os sonhos e os pesadelos: das mãos apertadas que deixamos no caminho... Que teremos deixado mais? e aonde?

Um dia destes, quando não tiveres mais nada que fazer, não queres vir procurar-las comigo? Só nós dois, como naquele dia de sol quente e cheio. De algum amor e muitos beijos.

Este é o modo como te compreendo: ‘Qual é (outra vez) a cor do teu nome?’, mas não chega.

Your House

I went to your house
Walked up the stairs
I opened your door without ringing the bell
I walked down the hall
Into your room
Where I could smell you
And I shouldn't be here, without permission
I shouldn't be here

Would you forgive me love
If I danced in your shower
Would you forgive me love
If I laid in your bed
Would you forgive me love
If I stay all afternoon

I took off my clothes
Put on your robe
I went through your drawers
And found your cologne
I went down to the den
I found your cd's
And I played your Joni
And I shouldn't stay long, you might be home soon
I shouldn't stay long

Would you forgive me love
If I danced in your shower
Would you forgive me love
If I laid in your bed
Would you forgive me love
If I stay all afternoon

I burned your incense
I ran a bath
And I noticed a letter that sat on your desk
It said "Hello love, I love you so love, meet me at midnight"
And no, it wasn't my writing
I'd better go soon
It wasn't my writing

So forgive me love
If I cry in your shower
So forgive me love
For the salt in your bed
So forgive me love
If I cry all afternoon

(Alanis Morissette)


Já olhei pela janela, as plantas continuam por regar...

quinta-feira, outubro 07, 2004

a casa

Vejo-te todos os dias… nas pontas dos dedos, nas mãos, na pele, no olhar, na extensão do gesto e na dor. Há entre ti e a música que escuto uma ligação estranha, doentia, perversa. Perversa porque sempre que os primeiros acordes ecoam pelas paredes do meu quarto e pelas palmas das minhas mãos, sou transportado para o passado, para aquele dia, para aquele momento que ainda se encontra gravado nas células que ainda não conseguiram acreditar que soubeste como renunciar a um amor que parecia procurar saber para sempre a cor do teu nome.

O nome, o teu, quase já o esqueci de tal banal que se tornou, mas a cor não. Essa ficou presa a tudo aquilo que se dobrou ou se contorceu para procurar perceber, entender as formas dos teus gestos que nunca despertaram os meus olhos por completo. Uns gestos que nos poderiam trazer a paz se ao menos tu tivesses sabido fazer a guerra. A nossa guerra. A guerra que desafia, que me consome e me arde desde o dia em que te conheci. Uma guerra que me conquista todos os dias, mais segundo menos segundo. Há dias em que sou senhor, outras escravo. Há dias em que sei que te amo, outros em que sei que não te devo amar. Outros ainda em que ninguém sabe como te amo. De vez em quando também há dias memoráveis, horas específicas, segundos especiais em que sei que tu nunca soubeste a forma do gesto que calcinou o meu coração. Esta há-de ser a forma que levarei no momento da despedida. A despedida que a cada palavra que passa se torna mais breve. Mais minha, menos nossa. Bem sei que não vais lá estar nem que sequer saberás que vou partir para longe daqui e, de certo modo, de ti, mas no momento em que olhares para as tuas mãos perceberás que estar já não sou e ficar já não vou, uma vez que a janela por onde ainda espero que me espreites estará fechada…

Eu estarei à espera, nesse momento rectangular e final. À espera que me devolvas a chave da casa que nunca chegamos completamente a habitar. Sem tecto, sem soalho e sem mobília. Apenas uma cama de estrado e algum amor. O meu. A ordem de despejo já chegou. Para mim e só para mim (nunca pusemos a casa no nome dos dois…), uma vez que tu já partiste há algum tempo.

Quem há-de, agora, regar as plantas?...

no meio

No meio do silêncio há-de nascer a luz que num pedaço de folha amarfanhada, em forma de risco soletrado, virá brilhante e densa, completa e finita, humana e rectilínea, dizer-me ao ouvido a quem pertence o gesto que me deixou preso ao peso da tua pele e aos dias que nunca inventamos. Isto tudo para dizer que já não consigo viver sem os textos que me seguram e me prendem. A mim, por dentro e dentro. Quantos textos mais serão necessários para que se apague das pontas dos meus dedos a memória do rosto e a impressão da saliva?...