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terça-feira, outubro 10, 2006

um texto

Há um texto por escrever, um texto que de certa forma te prometi. Este não é esse texto. Este é um outro, um outro que não pode contar com as certezas que existiam antes de me ter distraído… Antes de tudo se ter alterado. Antes de eu ter tido a oportunidade de acreditar, também eu, que os sonhos também se podem tornar realidade.

Este não é esse texto. Este não é esse texto porque esse texto não existe mais. Esfumou-se do meu pensamento e das minhas palavras antes que eu tivesse tempo de as gravar nas ondas do tempo. Não houve esse tempo para o transformar em gestos, para o ensinar a comportar-se como os meus olhos nos momentos em que conseguimos vencer-nos. Este é, por isso, o texto em que me deixo. Em que te deixo. Em que te deixo nas palavras, porque deixaste de existir nos gestos e assim não podes existir nos dias que são feitos de dias…

Este é o texto em que me escrevo, em que nos escrevo. Não para me exorcizar (isso não é possível), mas para pôr em ordem os sentimentos que sempre me controlaram. Os sentimentos que sempre ditaram a cor dos meus dias e a forma dos meus gestos e das minhas ideias. Este é o texto em quem me escrevo, e talvez, se conseguir que este seja um bom texto, este é também o texto em que nos apago. Este tempo e espaço não me chegam, desconfio, para te compreender e assim, toda a gente sabe, o amor não é possível. Este é o texto em que me escrevo.

Sei que fui um aluno rebelde, teimoso, com ideias próprias e só minhas, quase sempre em desacordo, em desalinho, de dedo no ar, menino sabe-tudo (mas também perdido!..) sem saber esperar a minha vez. A nossa vez. Talvez não tenha sabido classificar morfologicamente o que é amar ou o que é o amor ou o que são essas coisas no teu mundo, mas sempre soube que quis partilhar essa ignorância contigo e desfazê-la como se derrete a saudade com o suor das mãos apertadas…

E mesmo depois de tudo, de tudo aquilo que vivemos, de tudo aquilo que fizemos e inventamos, depois de tudo aquilo que prometemos e não conseguimos cumprir e das coisas que não vou hoje nem nunca escrever neste texto… aprendi contigo a libertar-me do amor, do meu amor, que aprendi a carregar, tal como carrego os dias que ainda não foram feitos para mim e de mim.

A minha vida nunca foi minha, sei agora disso e a tua é só tua, sempre foi só tua, apenas tua. Arrepender não posso, pois nunca te conheci o suficiente. Desistir? Desistir? Desistir, só de mim em Ti. [SILÊNCIO] O desleixo, a covardia e as promessas mataram-nos. A mim, a ti e a ti. O texto está escrito e eu sou o seu único autor.