deixa morrer devagar o meu medo no meio de palavras
que não compreendo, vêm do andar de cima e caem sobre mim
como se fossem pó: o gesso do silêncio. São estas as noites.
Despido, escrevo num caderno a viagem como se fosse uma
casa a habitar, assim me vejo sob gaivotas que vasculham no
lixo o alimento para uma fome um pouco trémula,
digo: é preciso esquecer as palavras para falar, é preciso
alguém dizer na minha boca os sons inaugurais, esta palavra
amo-te, tão esquecida dos lábios, esta palavra pobre, este equívoco,
tu falas junto a mim a tua palavra,
mas eu não sou a pessoa que a conhece
Rui Nunes
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