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sábado, maio 22, 2004

Bater de asa (berceuse para a libertação)


E se parte de mim partisse para o absoluto desconhecido, ficaria eu triste. Seria eu menos do que sou, menos do que aparento ser ou menos do que me deixam ser. Porque escrevo desconhecido quando quero dizer TU, grafado a gerar emoção e frio imenso, demasiado…

Fixo o meu olhar e pensamento em ti, na tua materialização possível e acertada pela minha mão trémula e insegura, mas que tu insistes em renovar a cadência, o movimento ininterrupto e contínuo. Porque pedes tanto de mim… porque me roubas o olhar (não sabes que é a única coisa que possuo tua no momento da despedida, no momento em que desistiria de mim para que pudesses continuar a palavra que me roubaste do corpo. O corpo que ainda lateja, lateja de ti. Vais voltar amanhã, agora ou neste preciso momento em que te registo na imagem sem linha final? Será que vais repetir palavras que nunca tinha ouvido antes, you are so beautiful, can I hold your hand (and your soul). Reconheço-te o sorriso, a mão sobre a minha mão. O beijo prometido. Aonde aprendeste a beijar assim?... Would you come with me if I left this place, pergunto-te… Sorris por entre os lençóis e guardas a resposta para amanhã… and what word should I utter quando me pedires para que sejamos felizes aqui, aonde as nossas mãos nunca se desenlaçam... Elas nunca se esquecerão de ti, mesmo quando não te perceber a palavra, o embaraço, a dor… Será que a reclamarei também para mim?

És tu a bater à porta…?

Ouvi a tua voz, finalmente, escreverei amanhã num outro poema, num outro tempo que há-de ser sempre o teu, porque eu não existo... Menti. Não me coloquei entre o tiro e o sorriso que me perfura. Sinto que menti nos lábios e nas mãos, mas deixa-me amar-te outra vez, como ainda hoje de manhã… E aí, juro que não mentirei. Acreditas em mim? Que sou eu outra vez? Que sou possível? Ouviste bem: possível.

E lá estou outra vez a brincar com a memória e o sonho… porque é que me deixas comportar assim?



A.R.

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