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sexta-feira, março 26, 2004

Estes últimos dias que se demoram no meu corpo em nada se assemelham aos mais passados. Estão preenchidos de dúvidas, de hesitações, de desejos escondidos que nem sei se são desejos ou se estão sequer escondidos.

A única coisa que sei é que me encontro em tumulto, em suspensão. Quebrou-se a (ténue) ligação entre a minha consciência e a fina agudeza dos dias. O trabalho não rende; o sonho não rende; o respirar não rende; a escrita não satisfaz. Parte de mim partiu para um destino que não concebi, para um mundo que não criei. Parte de mim partiu para um sonho que ainda não acordou. Parte de mim partiu para ti e eu não sei que fazer para me resgatar…

E tu, aonde estás? Aonde te escondes? De onde controlas esta sede que não ouso nomear. Este vão sentimento que recuso soletrar com medo de uma existência mais real. Sei que sou a tua representação e nada mais. Uma possibilidade de história como uma outra qualquer… Sou o discurso marginalizado, a versão não autorizada. A palavra feita silêncio. Tu é que produzes o sentido e eu, efémero, leio-te o significado. Não percebes que eu sou a sílaba que te falta. O verbo que te incompleta a acção. O nome que te recusa a existência.

Sim, sou tudo isso e muito mais… Mas neste canto do mundo, onde a luz se recusa entrar, esqueço- me de tudo isto e volto ao princípio onde tu não eras mais que uma sombra. Uma luz que ainda podia apagar. Um murmúrio que se esbatia num promontório de possibilidades. Volto ao momento em que este texto não existia, nem a possibilidade de o apagar da memória e das pontas dos dedos. Volto ao momento em que as lágrimas se estrangulavam ao principiarem. Volto, só não sei por quanto tempo…


Aonde estás?...



A.R.

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